quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Anne Rice responde a perguntas dos fãs na Bienal...

Recebida com gritos e aplausos por um auditório cheio (380 lugares), a escritora americana Anne Rice falou sobre sua obra, que inclui sucessos como "Entrevista com o Vampiro", em uma das sessões mais aguardadas da Bienal do Livro do Rio.
Rice, que participou de uma disputada sessão de autógrafos na sequência (ainda que não no nível do campeão de popularidade, o padre Marcelo Rossi), respondeu a perguntas do público por uma hora - os fãs iam sendo sorteados para falar com a autora.

Leia abaixo alguns dos tópicos que ela abordou:

NOVA ORLEANS

"Nova Orleans é tão importante para mim que é quase um personagem nos meus livros. Nasci e fui criada lá, acho a cidade linda, bem diferente do resto dos EUA. 'Entrevista com o Vampiro' é inspirado em Nova Orleans, no tipo de personagens e mistérios da cidade."



Fernanda Ezabella/Folhapress
A escritora Anne Rice em sua casa, em San Diego
A escritora Anne Rice em sua casa, em San Diego



INFLUÊNCIAS DOS FRANCESES

"A ficção de Sartre sempre me tocou. Mas, por mais que eu tenha sido influenciada pelos autores franceses como Sartre e Camus, acho que foi mais pelo estilo do que pela visão de mundo deles. Meu trabalho expressa muito mais fé do que o deles, que eram niilistas."

LITERATURA VAMPIRESCA

"Não sei de onde vem minha inspiração para escrever sobre vampiros. Me lembro de estar sentada em um quarto, tentando escrever um livro, e me veio a ideia de como seria um vampiro contando toda a verdade sobre o que é ser um deles. Isso foi algo que, após ser polido e reescrito, virou o 'Entrevista com o Vampiro'. Foi uma metáfora para falar da pessoa deslocada que eu era, me encontrei no personagem Louis [o protagonista do livro]."
"A adaptação de 'A Rainha dos Condenados' não foi exatamente baseada na minha obra. Tentei convencer o estúdio a fazer o filme de outra maneira, mas eles queriam criar uma nova franquia, a partir do personagem da rainha dos condenados. Me ofereci para escrever um roteiro novo mas eles disseram que eu era grande demais para eles. 'Queremos um roteirista que sente num canto e faça o que dissermos para fazer', eles me falaram. Foi uma experiência desapontadora, os personagens só têm os nomes dos meus, são completamente diferentes."
"As pessoas amam o glamour, o poder metafórico dos vampiros, o romantismo. Algumas pessoas já me ligaram e me perguntaram, com sinceridade, se Louis e Lestat existiam de fato e, quando eu digo que não, elas choraram."
"Os livros das 'Crônicas Vampirescas' nunca foram pensados como uma série, algo que tivesse um fim para cada personagem. Os leitores reclamam, mas eu cheguei ao fim da estrada com esses personagens, não tenho mais o que escrever. Aqueles 12 livros são tudo, entendo que as pessoas fiquem insatisfeitas, mas não há o que fazer, seria um desastre voltar a personagens sobre os quais já disse tudo que tinha a dizer. O melhor que pode acontecer com eles é ganharem novas encarnações no cinema. Um novo filme com Lestat está em negociação, espero que isso aconteça."

O LIVRO "VIOLINO" E A PRIMEIRA VISITA AO RIO

Uma das fãs que participou da sessão lembrou a primeira passagem de Rice pelo Rio, quando um grupo de fãs (do qual ela afirmou fazer parte) levou rosas à autora enquanto ela esteve hospedada em Copacabana, e foi saudado por ela da janela do hotel (uma cena que apareceria no livro "Violino", em que parte da trama se passa no Rio).
"Sempre quis conhecer o Rio, foi parte de uma peregrinação para mim, queria subir até aquela estátua [do Cristo Redentor], e foi uma experiência extraordinária. A história toda de 'Violino' me veio enquanto estava hospedada no Rio. Passava a noite toda acordada, olhando o mar de Copacabana. Não tinha um computador então escrevi em um caderno."

FÉ E RELIGIÃO

"Fui criada em uma família católica, mas durante a adolescência perdi minha fé em Deus e parti para uma jornada pessoal. As 'Crônicas Vampirescas' foram uma maneira de tratar da minha perda de fé. Depois disso, em certo momento, decidi que acreditava em Deus, só não na religião como me havia sido apresentada. Após essa decisão, me rendi, parei de me considerar ateia, e acabei voltando a abraçar a religião da minha infância. Até que, no ano passado, decidi novamente me afastar da religião e buscar Deus da minha maneira. Isso foram 50 anos da minha vida, e é claro que se refletiu no meu trabalho. Questões sobre o que é o mal, se há sentido na vida e se podemos fazer com que ela tenha algum significado, todas essas questões que me atormentavam aparecem nos meus livros."

LESTAT E JIM MORRISON

"Para mim o Lestat [seu personagem mais célebre, um vampiro vivido nos cinemas por Tom Cruise em 'Entrevista com o Vampiro'] tem a voz do Jim Morrison. Estava ouvindo The Doors quando escrevi o livro, e a voz que resume para mim a de Lestat é a que Morrison usa em 'LA Woman'."

LIVROS SOBRE ANJOS

"Os dois livros sobre anjos ['Tempo dos Anjos' e 'Of Love and Evil', este ainda inédito no Brasil] foram inspirados por um pensamento sobre como seria ser convidado para trabalhar para os anjos. É o que o personagem Tobby faz, deixando de lado uma vida como assassino profissional para trabalhar para os anjos em momentos diferentes da história. Essa é uma série que eu sinto que está só começando. No terceiro livro, que eu sinto que vai ser bem maior do que os antecessores, eu quero tratar do que significa ser um anjo e todas as implicações que isso tem."

SOBRE SER ESCRITORA

"Vejo minha vida como uma obra em progresso. Os livros em que acho que mais consegui atingir algo, e sei que os fãs muitas vezes não concordam, foram os da série 'Cristo Senhor', sobre a vida de Jesus. Foram muito difíceis de escrever, porque eu fiz em primeira pessoa a partir do ponto de vista Dele."
"Costumava sonhar, quando jovem, que seria uma autora. E sabia que o pior que um autor pode receber é a indiferença, então rezava para que meus livros significassem algo para as pessoas. A cada vez que alguém me diz que meus livros foram importantes para ele, me sinto tão agradecida que tenho vontade de chorar."
"O melhor conselho que posso dar [a um autor iniciante] é que você escreva exatamente o que quer, sem compromissos. Esteja disposto a errar, a fazer papel de bobo, esteja disposto a ser rejeitado. Eu fui rejeitada várias vezes, não havia mercado para 'Entrevista com o Vampiro', ninguém queria publicar. Então lhe digo, baseada no meu exemplo: escreva o que você quer escrever, faça com que as pessoas acreditem no que você escreve. O mundo precisa de gente com ideias novas, originais. Seja teimoso, leve seu livro adiante até encontrar alguém que acredite nele."

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